domingo, 5 de maio de 2013

E o auxílio-vítima?

          Desde que criaram o tal auxílio-reclusão venho lendo manifestações tanto de quem apoia como de quem é contra. Já adianto, para facilitar a interpretação, que sou veementemente contra.

          Quem defende o tal auxílio alega basicamente duas coisas, para justificá-lo: primeiro, dizem que ele só é pago para quem, na época do crime, trabalhava com carteira assinada e recebia um salário até o limite estabelecido por lei (o qual eu desconheço), ou seja, "não é assim, pagando pra tudo que é bandido"; segundo, defendem o mesmo alegando que a família do bandido, o qual, em tese, seria o provedor do lar, não pode ficar de uma hora pra outra ao 'Deus dará', sem amparo, sem eira nem beira.   

          Coloquemos isso na situação da dentista que foi queimada viva em São Bernardo dias atrás. Segundo as reportagens, ela vivia com os pais - não me lembro se na mesma casa ou numa outra residência no mesmo terreno - frequentemente atendia pacientes sem cobrar nada. Foi queimada, viva, por ter apenas R$ 30 na conta. São tantas coisas a se considerar que minha cabeça entra num ritmo frenético, mal consigo organizar as ideias. Mas vamos lá:

- A família do bandido - coitadinhos - não merecem pagar pelo ato do fulano. Mas a família da vítima, pode. Sem entrar aqui no mérito óbvio do sofrimento, da dor da perda, da forma brutal, cruel e pelo motivo ridículo (não que haja um motivo aceitável para tal ato), quem garante que a dentista não sustentava ou pelo menos contribuía no sustento da família? E se o pai, mãe ou qualquer outra pessoa próxima sofre de algum mal, cujo remédio caro só era comprado graças ao trabalho dela no consultório? E agora? Quem socorre essas pessoas? Existe auxílio-vítima?

- O assassino, se algum brio tivesse, deveria pensar no quanto aquilo iria prejudicar sua família, que sua prisão iria desencadear uma série de sofrimentos para os seus dependentes (sim, pois eu ainda prefiro acreditar que o tal auxílio seja pago para quem comprove a dependência, não baseado em mera relação de parentesco). Mas não o fez. Ou seja, ele ainda teve a oportunidade de pensar antes de fazer. A família da vítima teve essa chance? A escolha de defender, proteger a vítima? Não teve.

- Hoje o auxílio-reclusão é maior do que o salário mínimo. É preciso comentar algo sobre? Não está ÓBVIO o absurdo disso? 

- Peguemos o seguinte exemplo: uma família com quatro membros, marido, esposa e dois filhos, um recém-nascido e outro começando a vida escolar. Apenas o marido trabalha. Ele recebe um salário mínimo. Com esse dinheiro, ele tem que dar conta de manter uma casa com quatro pessoas, todas as despesas necessárias tanto de um bebê quanto de uma criança em idade escolar. Vejam bem, quatro pessoas. Agora, mantendo a mesma família, mas em outro quadro. O tal marido, mata uma mulher queimada. Vai preso. Sua esposa e seus dois filhos passam a receber uma quantia maior do que recebiam antes. E, olha só que bom, vai sobrar ainda mais, pois agora são apenas três bocas para manter! Sim, pois o bonitão, o machão que ateou fogo na inocente está lá, comendo às custas dos impostos daqueles que nada tem a ver com isso. Se antes a mulher já não trabalhava, agora que não vai mesmo. 

          O que falta no mundo é empatia, a capacidade de uns se colocarem no lugar dos outros. Já é lugar-comum, só se valoriza aquilo que se perde. A todos que defendem o auxílio-reclusão, que pensem bem se isso é justo. Não esperem alguém da sua família ser queimado vivo. Sim, pois se isso tivesse acontecido com a sua mãe, com a sua filha ou pior ainda (para alguns, por incrível que pareça) com o seu cachorro, você realmente iria pensar da mesma forma?

          E não, isso não é uma manifestação de esperança pela criação do "auxílio-vítima", mas pelo fim dessa barbaridade chamada auxílio-reclusão.