domingo, 6 de janeiro de 2008

IR EMBORA

Durante algum tempo, fui membro dessa comunidade no Orkut. Aí, quando comecei no meu novo emprego, achei que não precisava mais e saí. Agora estou pensando se volto. Não sei explicar ao certo, mas já há algum tempo que eu venho tendo essas idéias, de ir embora, pra bem longe, começar praticamente tudo de novo. Antigamente, nos meus devaneios de morar em outro país, eu pensava nisso como uma forma de ganhar mais dinheiro, ficar rico, o tal "sonho americano", afinal são tantas histórias que vejo até hoje pela televisão que isso me deixava mais empolgado - eu sei que essas histórias de sucesso são uma parte ínfima das tantas outras de desilusão, fracasso e deportação. Mas aí, como disse anteriormente, durante certo tempo passei a achar que isso não era mais necessário, não que eu tenha ficado rico, mas passei a ver as coisas de outra forma. Hoje, quando me pego imaginando vivendo em outro país, não faço mais planos de trabalhar feito burro durante um determinado período, juntar uma puta grana e depois voltar. Quando me vejo longe daqui, é pra nunca mais voltar. Acho que na verdade eu ando meio cansado de certas coisas. Me sinto cada vez mais um peixe fora d'água. Os meus sonhos não são os mesmos de todo mundo; minhas ambições também não; os meus gostos e desgostos, idem. Não sei por que tenho essa mania de pensar diferente, de querer coisas diferentes dos demais. Não seria mais fácil ter o sonho da maioria, casar-se, ter filhos, encaminhá-los e depois fazer a mesma coisa com os netos, até o fim da vida? Ou então morar na capital pra angariar fundos, comprar uma casa no interior e voltar pra lá pra morrer? Talvez fosse, mas eu não quero. Mesmo. Às vezes fico tão desanimado com o que vejo/ouço ao meu redor, que tenho vontade de mandar uma meia dúzia tomar no cu e desaparecer. Me chamam de arrogante, mas eu acho tudo tão simplista, tão medíocre, tão convecional. Sabe, um fatalismo, um comodismo, uma vida que gira num círculo vicioso, como se o lema fosse "vou viver até morrer". Ah, sei lá. Um dos efeitos colaterais de eu ter viajado tanto no ano pasado foi justamente esse. Eu percebi que o mundo é muito maior do que eu pensava e isso fez com se instalasse em mim uma inquietude, um certo desconforto com a rotina e com a possibilidade de estar fazendo a mesma coisa daqui vários anos. Acho que isso também tem a ver com o passado, afinal durante muitos anos vivi preso a um dia-a-dia inócuo, sem graça mesmo, uma vida que não parecia ser a minha.

Mas ao mesmo tempo em que essa vontade de vender tudo o que seja venal, raspar todas as economias e ir viver em outro país (sim, porque o Brasil não dá mais, perdi todas as esperanças nessa terra de merda - se é que algum dia tive alguma), insiste em rondar minha mente, surge o outro lado da moeda. Ir embora e fazer o quê? E quando acabar o dinheiro? Voltar com uma mão na frente e outra atrás? E o arrependimento, do tipo "meu Deus, tinha a vida feita e joguei tudo pelo ralo!". Até que ponto o sonho vale a pena? Não sei. Isso me confunde. Fico pensando no dia do 'acerto de contas'. Não, não me refiro ao Juízo Final onde - acredita-se por aí - o Messias vai surgir e pôr fogo em metade da população, mas sim ao dia inevitável em que eu (e todos nós) vou me sentar e fazer o balanço da minha vida. E o meu maior medo é perceber, lá na frente, que deixei de viver uma vida realmente válida por medo, por comodismo. Não tenho nenhuma pretensão de me tornar algum tipo de herói, de figura histórica, daquelas que são eternizadas em livros de história, que viram motivo de feriado nacional. Só não quero conviver com a sensação do arrependimento, da dúvida, do "e se".

Se fosse pra ir, pra onde iria? Xi... tantos lugares já me passaram pela cabeça. Conheço algumas - poucas - pessoas que tomaram tal decisão. Umas voltaram pra casa e outros ainda continuam lá fora. Cada um com seus motivos, e analisando cada um deles, a dúvida só aumenta. Repetindo, não é mais uma questão de enriquecer, mas sim de viver uma nova vida, porque a cada dia sinto que não pertenço a esta. Sinceramente, são meus amigos que seguram a minha sanidade, porque o resto só faz me sentir cada vez mais distante. E não pense você que isso é um papo de depressivo, carente e o caralho a quatro. Simplesmente não consigo enxergar o mundo com os mesmos olhos da maioria. Quero um país onde a falta de instrução, o "jeitinho", a ignorância, o bairrismo, o fanatismo, a vadiagem não sejam motivo de orgulho.

Mais acima me referi ao Brasil como terra de merda. Aí, pode surgir aquele lazarento e dizer "mas bem que pra você passear, o Brasil é bom né?". Exatamente. Nas minhas andanças pelos albergues, já econtrei vários estrangeiros. E foi a partir desses contatos que eu percebi que é só pra isso que o país serve mesmo, como um quintal, um "playground" do mundo. Ainda se houvesse uma revolução e separasse o Estado de São Paulo e a Região Sul como um novo país, talvez pensasse diferente. Mas do contrário... Sabe o que ter uma moeda que vale praticamente um terço do que vale para os estrangeiros? Enquanto eu pago vinte e cinco reais numa diária, eles pagam oito euros? Sabia que muitos dos estrangeiros que encontrei nem profissão tinham? Eram apenas estudantes que trabalharam de garçom, entregador ou similares, guardaram a grana e vieram pra passar MESES aqui no Brasil? E depois não é pra perder o tesão...

Enfim, sei lá. Talvez nunca realize isso. Talvez morra na mesma cidade, no mesmo emprego, na mesma casa. Eu sei que só depende de mim mudar as coisas. E estou pensando com cada vez mais freqüência nessa hipótese. Se vai rolar, não sei. Mas se acontecer, certamente vocês serão os primeiros a saber.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O HORROR
Nesta madrugada, eu e meus amigos decidimos que, depois da meia-noite, do fogos, dos abraços e votos de um feliz ano novo, iríamos ao baile do Ferroviário. Sei lá, acho que a intenção era tomar mais umas, encontrar outros colegas, dar uma divertida. Ledo engano. Já comecei o ano de 2008 aprendendo uma nova lição: nunca, jamais, never again, eu piso num baile/festa/evento cujo convite custe R$ 10,00. Se bem que, a esse preço, o certo é chamar de ingresso em vez de convite. Primeiro por que ingresso remete à cinema, circo, e foi assim que eu me senti nesse baile: assistindo a um filme trash ou a um 'espetáculo' de freak show, de circo dos horrores. Segundo, por que a palavra "convite" por si só já se explica e eu, modéstia às favas, jamais seria convidado para uma festa-lixo feito essa. Meu círculo social tem muito mais "catchiguria". O que eu vi lá pra causar tamanho descontentamento? Eu explico. Muita gente desconhecida. Eu achei no início que isso se devia ao fato de, há um bom tempo, eu não sair mais aqui em Laranjal; ou nós vamos pra outras cidades, ou ficamos na casa/sítio/chácara da turma. Ou ainda, como aconteceu em 2007, em alguns feriados prolongados peguei minha mochila e vazei. Mas, analisando melhor, vi não que era só isso. Não conhecia praticamente ninguém pois a maioria pertence a um mundo que não é o meu. Um mundo de espíritos pobres, beberrões - não que nós também não bebamos, mas Black Label não se compara a Vodka Fornov - gente FEIA mesmo, mal-ajambrada, fedida, barulhenta, daquelas que pensam que só pq tiveram condições de entrar num baile do clube mais elitizado da cidade, estão abafando. Resultado? Ficamos menos de meia hora no lugar. Foi como se, ao cruzar o portão do clube, fôssemos todos tele-transportados para um baile funk em Carapicuíba, Barueri, Jandira. Ou seja, o inferno na Terra. Podem me chamar de arrogante, metido, não-humilde, debochado, petulante, pedante, preconceituoso. Essa noite fui tudo isso. MESMO. Felizmente, minha turma compartilha muitas opiniões comigo - se não fosse assim, duvido que passaríamos dos dez anos juntos - e, assim que percebemos as reações uns dos outros, tratamos de sumir dali. Vou tentar ser mais detalhista. Assim que entrei, um cheiro de fritura no ar (quem, meu Deus, se presta a comer uma coxinha como primeira refeição do ano?); logo em seguida, um calor insuportável, proveniente da parte superior, onde a terceira idade se esbaldava ao som de músicas cuja origem, ritmo, melodia (??) e letra eu desconheço. Ao descer a escadaria, um odor indecifrável tomou conta dos meu arredores; indecifrável porque, assim que ele ameaçou entrar pelas minhas narinas, eu tratei de prender a respiração e sair daquele perímetro o mais rápido possível. O pouco que me lembro, era uma mistura de perfume barato, sovaco e sei lá mais o quê (prefiro nem descobrir o que era). Ao chegar no recinto das piscinas, eu ainda tinha um fio de esperança de que meus sentidos fossem mais bem-tratados. Mais uma vez, ledo engano. Estava pior. De um lado, umas pessoas com umas caras de bosta que, sinceramente, seja lá qual for a expectativa para 2008 desses seres, será um ano estupidamente apático, para dizer o mínimo. Mais a frente, um bando de tsunamis*, pulando, virando, gritando, um bando de bicho no cio, ao som de "Tropa de Elite" - foi a única música que eu consegui distingüir em meio àquele pandemônio. Ficamos estacados no mesmo lugar durante os poucos (mas que pareceram eternos) minutos em que estivemos ali. Ainda encontramos um ou outro conhecido que também estava vagando pelo ambiente - se esses estavam se divertindo, não me pergunte. Enfim, é isso. Se deixar, vou ficar aqui até amanhã, seguramente. Por isso, chega. Só volto a dizer que os primeiros momentos de 2008 foram os mais medonhos que já vivi. Mas, como disse pro Tony, vamos olhar por um ângulo positivo. Se começou tenebroso desse jeito, certamente pior não pode ficar. Sim, porque se ao longo deste ano eu tiver uma visão mais escrota, horrorosa, demoníaca, nojenta, repulsiva do que essa é por que eu morri e fui para o inferno. Feliz 2008.

*Denominação para super-biscates. As biscates 'normais' têm tanto fogo na buceta que pode-se imaginar que o dito órgão se movimenta freneticamente nos períodos de cio - ou seja, diariamente,
ad infinitum - como se fosse um motor de popa, daqueles que ao serem colocados às margens do Rio Amazonas, atravessam o mesmo em questão de segundos, tamanha a propulsão do motor. Numa super-biscate, a potência desse motor é elevada exponencialmente, permitindo às portadoras do mesmo surfarem sobre as ondas do Tsunami.


Tá difícil de enxergar o palco do baile né? Vai por mim, prefira dessa forma. Às vezes, a ignorância é uma benção.