terça-feira, 22 de abril de 2014

Sobre Brasília

Observações:
1 - Não, eu não me enganei. Esse texto fica nesse blog mesmo, não no Não Turista.            
2 - Sempre que digito no Word para depois colar aqui, a formatação dos parágrafos fica uma bosta. Eu não sei arrumar isso e estou com preguiça de tentar. Grato.


     Diferente de outras viagens, nessa última eu não fiz anotações sobre os lugares que visitei, como chegar e sair, horários, prós e contras, enfim, nada. Não sei bem o porquê disso, só sei que não o fiz. Talvez tenha julgado desnecessário, já que considero esse texto do Viaje na Viagem completo; não haveria nada de novo a dizer. Entretanto, uma amiga me pediu comentários sobre a capital brasileira, pois também tem vontade de conhecê-la. Por isso, cá estou eu.
    Durante algum tempo a ideia de visitar Brasília vinha rondando meus planos; acontece que lá não tem praia, logo eu sempre deixei pra depois. O que me fez finalmente decidir ir pra lá foi o fato de ter um feriadão de cinco dias para usufruir, mas não ter dinheiro suficiente para ir lugares como o Rio ou alguma cidade nordestina. “Mas Brasília não é cara?”, você pode perguntar. Eu não achei nada do outro mundo. Quem já esteve no Rio diversas vezes, dificilmente vai se espantar com os preços de outros lugares... Só sei que as passagens estavam baratas (viva o Smiles da GOL), então resolvi que era a hora de ir – e finalmente deixar de ouvir “você conhece a capital da Argentina e não conhece a sua própria?”. Pronto, já era.
     Antes de qualquer coisa, importante mencionar que estive em Brasília entre os dias 19 a 21 de abril, ou seja, toda a descrição que se seguirá refere-se a esse período. Se for em outra época, pode não ver as coisas como eu vi.
   Se tivesse que atribuir um único adjetivo à capital nacional, eu escolheria “surpreendente”. Sim, surpreendente.
     Por culpa do tal pré-conceito, eu sempre chego num local onde nunca estive com um “mapa mental” pronto, achando que o clima será assim, a vegetação será assada, as pessoas terão determinada aparência, etc e tal. A única vez em que isso não aconteceu, vale salientar, foi quando decidi visitar Manaus – não me pergunte o porquê, só sei que foi assim.
      E por que Brasília me surpreendeu? Porque eu não esperava ver tanto verde. Meu pré-conceito me dizia que, uma cidade do cerrado, em pleno outono, seria incomodamente seca, amarelada, “poereinta”. Não foi o que eu encontrei lá. Eu vi uma integração muito agradável entre o concreto e a natureza, a compreensão do tão falado e famoso planejamento que deu origem à capital brasileira. Embora haja muitos prédios (aqui eu me refiro ao Plano Piloto), o visual não fica sobrecarregado, o sol chega com abundância, o céu não “desaparece” sobre uma selva de pedra, como vemos em alguns pontos de outras capitais.
    Quando comentei que iria até Brasília, algumas pessoas me perguntaram o que eu iria fazer lá. Realmente, não existem muitas coisas a se fazer por lá, fora do chamado turismo cívico. Visitar a capital é, basicamente, fazer duas coisas: conhecer todos os prédios públicos – e de quebra ficar um pouco mais por dentro da nossa história – e passar um fim de tarde no Pontão, lugar agradabilíssimo. Tá, ok, existem outros lugares para se visitar, como o Parque da Cidade, mas o básico se resume ao que mencionei há pouco.
     Para um melhor proveito da sua estadia em Brasília, o melhor é alugar um carro. Na verdade, eu diria que beira o imprescindível. Embora existam metrô e ônibus urbano, nem um nem outro atendem a cidade como deveria. As linhas do metrô não são abrangentes como as de São Paulo (antes que algum pau no cu venha me dizer que o metrô da capital paulista é uma merda, pois “veja o de Nova York”, quero lembrar Vossa Senhoria que eu não vivo em SP, logo, todas as partes que me interessam como visitante são, sim, lindamente abrangidas pelo metrô) e a quantidade de ônibus em circulação não chega nem perto do número de ônibus no Rio. Essa é uma falha ridícula numa cidade que nasceu do nada, foi totalmente planejada, ter um mapa de metrô tão reduzido. Além disso tudo, as coisas em Brasília ficam longe umas das outras, não dá pra ficar indo de um lugar pra outro só caminhando – ok, gente chata, até dá, mas vai levar muito mais tempo para conhecer tudo e chegar morto no fim do dia. Se pretende ir pra lá, considere muito alugar um carro – a menos que conheça alguém lá que possa ser gentil o suficiente de levá-lo(a) para os lugares no carro dele/a. Outra coisa importante: se vai no período compreendido entre agora e a Copa, planeje-se bem para sair/entrar no aeroporto. Como não poderia deixar de ser, tudo está em obras, beirando o caos. Dependendo do horário, do dia da semana, pode levar um bom tempo, especialmente para entrar no aeroporto – e todo mundo sabe que, enquanto as companhias podem atrasar o quanto quiserem, os passageiros não tem esse ‘privilégio’.
     Eu não vou fazer um passo a passo das coisas que fiz lá. Viu que lá no início eu linkei o post do Viaje na Viagem, não viu? Então pronto. Colhas as informações “técnicas” lá. O que eu posso dizer é: a visita é gratuita? Visite. É paga, mas você tem curiosidade? Visite, afinal já está lá mesmo...
     Com relação aos habitantes, não tenho do que me queixar. Embora seja um trânsito intenso (mesmo num feriado), não presenciei grandes barbeiragens e eles não buzinam por qualquer motivo como os cariocas. Também não ouvi nenhum carro com o som no último volume – veja bem, isso não quer dizer que eles não existam... Estive em alguns locais com uma certa aglomeração (Pontão e Bienal, por exemplo) e não tive nenhuma vontade de sair correndo ou de morrer de vergonha alheia; claro que um ou outro babaca sempre aparece, mas isso em qualquer lugar. Agora, uma queixa há de ser feita: o atendimento nos bares/restaurantes. É ruim. Por mais de uma vez demorei a ser atendido, mesmo tendo levantado a mão insistentemente e, quando fui, tive que repetir o pedido, pois tinham “esquecido”. Pelo menos não rolou aquela cobrança marota, “a mais”. Nisso, por onde passei, foram honestos.
     Quando for, reze para não chover, sequer ficar nublado. Com chuva aquilo deve ser uma desgraça para se locomover entre um ponto de interesse ao outro, especialmente nos arredores do Congresso; não dá pra você se esconder dentro da padaria até a chuva diminuir. Não tem padaria, bar, restaurante, nada por ali. E mesmo que não chova, Brasília nublada deve ficar bem sem graça. O céu azul e o verde realçado pela luz do sol, contrastando com as construções tornam tudo bem peculiar. Já bastam os cinquenta tons de cinza da capital paulista... Ah, e ir ao Pontão sem sol deve ser mais deprimente do que a musiquinha de encerramento do Fantástico. Eu tive sorte de pegar dias muito ensolarados.
     Mesmo numa cidade não litorânea como Brasília, eu mantive meus hábitos diurnos; nada de varar a noite badalando. Sendo assim, não terei dicas de lugares para ir durante a noite. Entretanto, não foi difícil notar que a capital tem muitas opções de bares e restaurantes para se visitar; eu vi Bar Brahma, Devassa, restaurantes Mangai (delícia) e Nau (concorrido). Enfim, dando uma pesquisadinha por conta, não deve ser difícil descobrir o que se fazer por lá.
    Além de Brasília, também tive a chance de passar uma tarde em Pirenópolis, que fica a 140 km da capital, por uma estrada bem ruinzinha. Como foi pouco tempo, não vou comentar demais, para não correr o risco de ser injusto. Estive em Piri (como o pessoal de lá diz) no domingo de Páscoa, ou seja, cidade lotada. É uma cidade bem pequena e, ao contrário do que imaginava – olha o pré-conceito – não me lembrou Ouro Preto. Piri tem seu charme, talvez mereça uma visita mais longa, com mais tempo, mais calma. A cidade é famosa por suas cachoeiras, mas não se iluda: elas ficam LONGE da cidade e umas das outras. Nem pense que dá pra ir caminhando. Haja disposição, tempo e carro para chegar até elas. Além disso, o acesso às mesmas é cobrado, pois ficam em propriedades particulares. O que eu posso dizer de Piri é fazia tempo que não almoçava tão bem fora de casa. Restaurante “As Flor” – assim mesmo, sem concordância. Ambiente super simples, mas com uma variedade absurda de uma comida saborosíssima; só o almoço já teria valido a visita a Pirenópolis. Enfim, como disse, não vou me alongar sobre Piri, pois tive pouco tempo, tenho pouco material para avaliar a cidade, seria leviano da minha parte.
     Aqui, cansei, vai. Se tiver algo que queira saber, manda a pergunta que eu respondo sem hesitar.
     É isso.


     Que bons ventos te levem, pra onde quer que seja. J

terça-feira, 8 de abril de 2014

Nós, os "Zillas".

Uma amiga postou isso, hoje, em seu Facebook:
           
          “Sempre tive fama de ser grossa e barraqueira: Não nego. Falar o que quer tem um preço alto, que eu sempre paguei, mesmo quando sequer abri a boca. Talvez por isso as pessoas acham que eu não me ofendo, não me magoo e esqueço das coisas: Estão enganadas.
           Quando eu faço uma grosseria todo mundo acha normal e no direito de me julgar. Afinal, essa sou eu. Agora, quando me fazem uma grosseria gratuita, me desconvidam de casa, me fazem desfeita e meia dúzia de acusações sem sentido também é natural: A pessoa é sempre vítima, com medo de mim, a "Janazilla". Afinal, fulana é chique e educada, beltrana é doce e gentil, sensível. Eu... Sou eu mesma, sem surpresas, sem reservas, sem trato.
           Por isso, não julgue minhas atitudes. Eu ouvi coisa demais calada, tentando manter por perto gente que me destratou na primeira oportunidade. Agora acabou. Não tem mais fair play. Que cada um (assim como eu) assuma o que fala e faz e viva sua vida.”

Sabe aquele texto que você lê, relê e reflete sobre ele? Eu sempre me senti assim, apenas não sabia disso. Precisei que outra pessoa se definisse, para que eu encontrasse nessa definição alheia, muita coisa de mim mesmo. Não, não vou comentar aqui cada palavra do texto dela, afinal não disse que é a minha definição perfeita – tenho as minhas próprias características – mas a identificação foi monstruosa.

Depois de ler o texto (eu ainda estava no trabalho) passei o resto do expediente pensando nisso, repetindo mentalmente: “É isso, é bem isso! Nós nos tornamos os monstros, os ‘Zillas’ e todo o resto são as ovelhinhas, as Brancas de Neve, os mocinhos e mocinhas da novela das oito”. Um adendo: para os que ainda não entenderam, “Zilla”, vem de Godzilla, o monstro temido, horroroso que destrói tudo e todos.

Eu vivo sendo chamado de “ruim”, “difícil de lidar”, “muito sério”, “cara de bravo”. Reconheço, sou assim mesmo (acrescento aqui, por conta própria, “arrogante”, “pedante”, “metido” e um cara “que se acha”). Porém isso não quer dizer que a todo tempo, a toda hora eu reajo como eu realmente gostaria de reagir. Nós, os Zillas, por incrível que pareça, também nos calamos, engolimos desaforos, fingimos que não ouvimos, que não percebemos certos olhares, certas atitudes, especialmente quando essas vem de pessoas pelas quais temos muita consideração. Não posso responder por todos os Zillas, mas por mim eu posso e eu digo que tenho uma perspicácia acima do normal. Eu leio olhares enviesados, expressões corporais, silêncios, cumprimentos lacônicos, sorrisos amarelos. Percebo muito mais do que as pessoas acham que eu percebo e isso faz com que elas se sintam no direito de extrapolar o limite do tolerável no relacionamento interpessoal. Como sei disso? Simples. O fato de ser um Zilla faz com que as pessoas pensem da seguinte forma: “vamos tomar essa atitude da forma mais discreta possível, para ele não perceber. Vamos tirar ele do jogo aos poucos. Ele não fez um escândalo? Ótimo! Fizemos direitinho, demos a volta nele e ele nem percebeu”. Ledo engano. Acreditem, já fiz “vista grossa” pra tanta coisa, mas pra tanta coisa... E os ingênuos lá, achando que eu não ‘ganhei o movimento’.

Aí, você pergunta: “tá, se você é um Zilla, mas não reagiu explosivamente com relação àquela atitude, isso não faz de você um falso?”. Não. Quando isso acontece, nós preferimos fazer de conta que não notamos, em nome de algo que aqui eu chamo – por falta de uma definição mais agradável aos olhos – de ‘bem maior’. Eu não vou confrontar uma pessoa pela qual eu tenho um grande apreço, pois tenho consciência que, nos despojos desse confronto, não restará lugar para, sequer, uma convivência sociável. Sendo assim, prefiro o silêncio, me fazer de desentendido, para preservar algo que acredito ser mais importante. Pois, como eu sempre digo: “comigo, é uma vez só”. Se eu corto relações com quem quer que seja, é definitivo.

Acontece que isso cansa, incomoda, frustra. Pior: decepciona.

Não pense você que isso é um pedido de desculpas ou uma vitimização da minha parte, pois não é. Jamais será. Prefiro morrer seco e atrás da porta a me fazer de vítima em qualquer que seja a situação. É apenas um desabafo, que foi disparado pelo texto que no início deste eu colei.

Ao longo dos anos, quanto mais o meu círculo de contatos aumentava, eu passei a notar um tipo de pessoa que não combina em nada com a minha personalidade Zilla: os ‘carentes-egocêntricos afetivos’. Por que o termo “egocêntrico”? Simples. Quem é apenas carente, pode se sujeitar a todo tipo de papel só para ter atenção de quem quer que seja. É a pessoa que perde sua identidade, não sabe mais quais são seus gostos, seus desgostos, seu destino preferido nas férias, o gênero de filme que mais lhe agrada, a sobremesa que mais lhe apetece; ela vive em função do outro que lhe dá atenção, tipo cachorro mesmo. Não é desse tipo de carente que eu quero falar.

O carente-egocêntrico quer, sim, todas as atenções voltados pra ele, mas impondo os seus gostos, nunca respeitando, jamais se sujeitando aos gostos dos demais. O carente-egocêntrico é um ser caracterizado pelo quase inexistente senso de coletividade. Todo mundo tem que ir aonde ele quer ir, todo mundo tem que fazer o que ele quer fazer, todo mundo tem que gostar do que ele gosta.

Um exemplo: temos um grupo de seis pessoas que decide ir para a praia no fim de semana. Um sugere a praia X, outro sugere a praia Y, outros nem sugerem nada; o carente-egocêntrico impõe a praia Z. Sim, impõe. Pois vá o grupo discordar e resolver ir para a praia X. Já sabe o que acontece, né? Todos os outros cinco terão que passar o fim de semana todinho convivendo com uma criatura de cara amarrada, reclamando de tudo, simplesmente pelo fato de ter sido contrariada. Sendo assim, o que acontece de fato é que todos concordam com a praia Z, afinal eles querem mais é se reunir e se divertir, mesmo sabendo que as outras praias são melhores. Durante algum tempo, isso acaba sendo quase que uma lei implícita, vamos todos aonde a tal pessoa decide ir, sem questionamentos, tudo para, como diria Jaiminho Carteiro, “evitar a fadiga”. Entretanto, isso não fica por isso mesmo. Vai minando, vai embolorando, vai trazendo amargura, desconforto, até o rompimento definitivo.

Parece que desviei do assunto principal, não parece? É que eu achei necessário falar sobre essas pessoas para dar continuidade.

Chega uma hora em que tudo o que você faz é mal visto. Você só tem valor quando faz aquilo que o outro quer que você faça para ele. Se não faz, não presta, é “ruim”. No fundo, a verdade é que eles sabem que você não vai concordar apenas por concordar, que você não vai dizer amém a tudo o que da boca deles sair, que você pode, a qualquer momento, contestar, duvidar, provar que eles estão errados, que você tem uma ideia melhor. Tais pessoas não sabem lidar bem com o ‘não’ como resposta e nós, os Zillas, somos uma afronta, uns abusados, audaciosos, uns atrevidos que ousam dizer o tal do ‘não’. Isso os enfurece!

Eu não sou do tipo afetuoso, sorridente. Eu sou do tipo prático. Está com algum problema? Diga-me o que eu preciso fazer para ajudá-lo que, se puder, eu faço. Acordo na hora em que tiver que acordar, dirijo pra onde tiver que dirigir, abro a carteira até onde puder abrir. Porém fique ciente de que, caso o motivo dessa ajuda que presto a você é fruto de uma cagada sua, de algo irresponsável, imbecil, eu vou ajudá-lo da mesma forma (caso seja uma pessoa pela qual eu tenha grande apreço, claro), mas que você vai escutar um monte de mim, isso vai. Agora, se o que procura são afagos, mimos, ‘mi mi mis’, que eu concorde com você mesmo discordando, aí pode procurar outro mesmo. E é justamente isso que enfurece os carentes-egocêntricos. Eles não querem amigos, eles querem súditos. Você só presta enquanto satisfaz os interesses dele; depois disso, ele vai aos poucos se afastando, mas constantemente fazendo você perceber, ainda que em doses homeopáticas, que as coisas não são como um dia foram, que você deixou de servir aos propósitos que um dia serviu, e que agora é você quem não serve mais.

Eu e essa mania... Começo a escrever, deixo os dedos me levarem e acabo com essa sensação de ter me portado como um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Vim pra casa pensando em escrever sobre uma coisa, meio que acabei escrevendo sobre outra. Ou não? Já não sei de mais nada...

Bom, preciso concluir. Talvez não seja o momento de ser tão definitivo como minha amiga foi ao terminar o texto dela. Digamos que a intenção desse post não é um ultimato. Também não é uma indireta, muito menos tem um alvo certo. Foi apenas um desabafo. Senti vontade de escrever, vim aqui e assim o fiz.

Encerro (sim, agora é pra valer) com uma frase extraída de um dos milhões de cards de Magic, chamado "Titeriteiro" (vai procurar no google):

"Fazer com que as pessoas façam o que você quer é apenas uma questão de lhes dizer o que elas querem ouvir".

Não sou nem aquele que manipula, muito menos aquele que se deixa ser manipulado. Tenho nojo de ambos.

Desejo ao mundo menos carência e mais empatia. Entenda como quiser.

É isso. Boa noite.

Ass.: JEFFZILLA.