quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Feliz dia do...

- é tudo vagabundo mesmo.

- concurso é uma máquina de ganhar dinheiro, tudo marmelada.

- ganham do nosso dinheiro para não fazer nada.

- baita mamata, o dia inteiro sentado em frente ao computador.

- se fechar as portas, ninguém sente falta do serviço deles.

- eu, advogado, odeio os servidores mas... "será que você pode agilizar esse processo pra mim?".

- eu entro no cartório com ares de empáfia, pois você é servidor e tem que me servir (só que eu não dependo do seu trabalho, dotôzinho, você é quem depende do meu. Experimente não dar andamento, lanço uma certidão linda e mando seu bebezinho para a extinção).

- eu não fui intimado desse processo! O quê? Essa assinatura? É minha sim... (fuén)

- os bons servidores que sofrem com a má fama oriunda dos que realmente fazem jus a ela. Sim, existem vagabundos também. A lenda não é de toda fantasia.

- não estou satisfeito com meu salário, mas como não tenho capacidade de achar algo que me pague mais, faço greve - depois tenho que ficar trabalhando para repor tudo o que perdi.



- não temos que trabalhar aos sábados (algumas exceções aqui).

- emendamos feriados.

- a folga que teríamos hoje foi transferida para sexta. Quatro dias de folga.

- temos trinta dias de férias ao ano, garantidos por lei. Se você vende as suas e não sai de casa, não nos culpe.

- além das férias, temos o recesso de fim de ano. Obrigado pela pressão junto ao TJ, advogados. :)

- feriados emendamos todos, ainda que tenhamos que repor as horas depois.

- geral desce o cacete, mas nunca o serviço público foi tão visado, é uma briga de foice para passar em concurso (mas é mamata, lembram?).

- se faço um minuto de hora extra, automaticamente cai no meu banco de horas. Não rola serviço de graça. Princesa Isabel manda lembranças.

- não somos nós que trabalhamos de menos. São vocês que trabalham demais.

Feliz dia 28 de Outubro. Dia do servidor público. 

É um tédio, mas a gente gosta.

domingo, 4 de outubro de 2015

Relatos do Sertão - o último

Como meu voo só sai às 19h00, mas eu já estou no aeroporto (são quase 14h00), terei tempo para divagar sobre essa viagem. Mantenho o que disse anteriormente e farei aqui apenas meus relatos pessoais, os detalhes técnicos ficarão no meu outro blog, www.naoturista.blogspot.com.

Na segunda-feira eu aluguei uma bicicleta e fui para o lado sul da cidade. A praia é gigantesca, não existe nenhuma barreira natural ao longo de quilômetros e quilômetros. Fui até uma praia chamada Aruana, a qual me disseram ser mais movimentada. Embora fosse manhã de segunda, logo tudo vazio, deu pra notar que realmente a estrutura de barracas é melhor e o mar não fica tão distante como ali perto dos arcos - isso não significa que a caminhada seja curta. Entretanto, a paisagem não muda muito. Nada que valha uma visita - talvez em dias e horários mais movimentados valha a pena estar ali, mas só pra quem está de carro, pois é longe. Ônibus até passa, mas haja paciência para esperar, pois são escassos. Devolvida a bicicleta, fui para a areia tomar uma cerveja. Realmente não rola entrar no mar de Aracaju. Não é sujo, mas por ser onde o Rio Sergipe deságua, o mar fica revolto, cheio de areia. Não me empolguei. Também venta muito, o que dificulta as pessoas ficarem na areia, nas cangas ou mesmo indo e vindo, aí o ambiente torna-se meio desinteressante. Enfim. Depois peguei bike de novo e segui rumo ao norte, nada a se destacar. Mesmo.

A terça-feira foi mais produtiva. Descobri o ônibus para o centro (aqui não tem aplicativos) e embarquei. Claro que hoje, com o combo GPS+smartphone, tudo está mais fácil. Lembro-me em Buenos Aires, parando de tempos em tempos e abrindo o mapa para me localizar. Era legal, mas dava trabalho. Bom, o centro de Aracaju é interessante pois, por ser afastado da praia, dificilmente você esbarra em turistas, apenas com os locais. E aí está a graça. Pense num local caótico. Os postes tem caixas de som que ficam tocando músicas nas alturas, isso misturado com os "promoters" das lojas com seus microfones, as pessoas de modo geral e a moça que vende CHIP DA TIM POR UM REAL! Muitas lojas, lanchonetes; camelôs então... Uma profusão de cores, vozes, barulhos, zero calmaria. Mas tem um detalhe: limpeza. Aliás a cidade toda é bem limpa - pelo menos se comparada com outras capitais. No centro visitei o excelente Museu da Gente Sergipana, a Casa de Cultura de Aracaju (fraquinha, mas recebe eventos de cinema, gosto) e o mercadão central. Aqui o conceito "gourmet" não existe. Ainda bem. Não é lugar para dondocas irem comer lanche de mortadela no fim de semana. Aqui é o do povo mesmo. Pense numa infinidade de itens. Tudo. Feira, carnes, roupas, bugigangas, peixes (muitos peixes!), cereais a granel, é aqueles mesmo que a gente pode enfiar a mão e o tiozinho nos vende pegando com aquele negócio cujo nome eu não sei. Paguei 15 pixulecos num almoço com refri. Super simples e só não digo saboroso pois o feijão tinha, claro, coentro. Aí não tem como elogiar... Comprei também uma quantia generosa de castanha de caju por apenas 10 Dilmas. Dali passei numa espécie de centro de artesanato, comprar um imã e comi um doce de jaca. De jaca não tinha nada, açúcar e canela puros - arrepio até agora de lembrar. No retorno para Atalaia resolvi descer no shopping, pois eu precisava comprar água e algumas bobagens para deixar no quarto e levar no passeio no dia seguinte, já que perto da hospedagem não tinha onde comprar. O shopping que visitei se chama Riomar. Sorte deles que existem outros, pois esse é péssimo. Entrei, comprei o que queria e já saí. Nada que me prendesse.

Ontem, quarta-feira, eu fiz o passeio que faltava, foz do Rio São Francisco. Na verdade eu havia comprado para a terça, mas como não deu "quórum", mudaram pro dia seguinte. Aí choveu. Muito. O grupo todo resolveu vir mais cedo, pois não dava graça mesmo. Uma pena, pois o lugar é bem interessante e totalmente possível nadar no rio, mas com aquele tempo não deu. O jeito vai ser, quando voltar pra Maceió, refazer o passeio. Quem sabe...

Bom, depois de tanto blá-blá-blá o qual, creio eu, nem seja assim tão interessante, vou deixar minhas impressões sobre Aracaju:

- É uma cidade que tem um turismo mais calmo, para casais e pessoas já na chamada terceira idade. Vida noturna, desconheço. Tem um tal de Cariri na orla, casa de forró, mas segundo um cara do hostel que foi, absurdamente turístico. Como não sou da noite, nem fui atrás de eventos, festas e baladas. Se bem que teve o show do Wesley Safadão... Passei.
- A orla é muito bonita, bem planejada, embora hajam algumas construções abandonadas e outros trechos que não passam tanta segurança. Também vi vários andarilhos (viciados?) mas nenhum que importunasse, abordasse as pessoas.
- Percebi que Atalaia ainda está se adaptando ao turismo. Digo isso pois notei muitos hotéis e pousadas recentes, ausência de farmácias e supermercados - tem apenas uma "venda" na orla toda. O comércio na região é extremamente deficiente. Talvez que, por ser a praia ruim para banho e visualmente não atraente, só com a construção da orla surgiu interesse no bairro, por isso tudo ainda está se desenvolvendo ali. *Acabei de ver numa foto aérea, enorme, aqui no aeroporto, da década de 80 que a cidade se concentrava no Centro e arredores apenas, às margens do rio. Atalaia era praticamente um imenso terreno baldio. Tá explicado.
- É uma cidade cara. Mais do que isso, explora-se muito o turista aqui. Exemplo: no passeio da foz, antes de embarcar no catamarã, somos orientados a escolher o prato para o almoço e deixar o mesmo pago, naquele esquema que o guia indica (força) e a gente finge que escolheu. Paguei R$ 35 por o que seriam postas de pintado. Veio uma miséria de tudo, do arroz, do vinagrete, do peixe. Na República dos Camarões, um restaurante excelente na orla, o parto individual de camarão sai por R$ 33,90, bem servido e delicioso. Então, tudo é assim. Você contrata o passeio, mas sempre tem algo a mais para pagar. No passeio do Xingó, uma lata de Itaipava Premium, daquelas menores, saía por absurdos R$ 8,70! Eu acho que isso se deve justamente por se tratar de um público mais velho e, geralmente, com grana pra gastar. Outro caso: voltando de Piranhas, peguei táxi na rodoviária, pois com bagagem em circular é foda, ainda mais sem saber ao certo onde descer. Pois o cara colocou bandeira dois, em pleno meio-dia. Justificativa? Alta do combustível. E na hora em que seria segunda bandeirada, faria como? Multiplicaria por quatro? Enfim, por diversas vezes senti essa tendência em tirar o máximo possível de dinheiro do turista. Polegar pra baixo.
- As pessoas a quem pedi algum tipo de ajuda, informação, foram todas muito simpáticas e prestativas, sem exceção.
- Por ser uma cidade não tão grande (tem 620 mil habitantes, enquanto Ribeirão tem quase 700 mil) não fica difícil conhecer todos os pontos interessantes em pouco tempo. Aliás, sendo o Sergipe o menor Estado do Brasil, dá pra cruzá-lo de norte a sul, leste a oeste. Literalmente.

Pra finalizar. Eu disse num post do Facebook que minha passagem por Aracaju poderia ser resumida numa frase, "que saudade de Maceió". Disse isso pois, pra mim, a capital alagoana não é tão cara, a praia é muitíssimo mais bonita (embora poluída), a orla também é bacana e lá é possível passar o dia debaixo do guarda-sol, com os pés na areia, bebendo cerveja e entrando no mar. Em Aracaju até rola, mas em poucos pontos, porém mesmo assim não é a mesma coisa.

Voltar pra Aracaju? Apenas ganhando passagens e hospedagem, de preferência em hotel caro com piscina enorme. Ou então daqui 25, 30 anos. Do contrário, não.

Ufa. É isso.


domingo, 27 de setembro de 2015

Relatos do Sertão - III

*Embora não esteja mais no sertão, decidi manter o título dos posts porque gostei dele. E o blog é meu, faço o que quiser.

Hoje é dia de reclamar. Acharam que ficariam livres dessa vez? Eu bem queria não precisar reclamar, mas nem tudo tá indo bem. Explico.

Ontem reservei, para hoje, o passeio para Mangue Seco. No panfleto da recepção, o passeio é apresentado como sendo "dois em um", primeiro visitando a Praia do Saco, depois Mangue Seco. Pois bem. Saímos daqui, eu e um outro hóspede do coletivo, crentes que seria dessa forma. Já na van, o motorista diz que apenas seis pessoas ficarão na tal praia e os demais seguir viagem. Primeiro erro. Depois, somos 'comunicados' que, ao chegar na vila de Mangue Seco teríamos que contratar um bugue SE quiséssemos chegar à praia. Isso mesmo. O passeio é vendido por um preço e na hora você descobre que vai ter que pagar mais para chegar no destino contratado. Entretanto, importante destacar que eu fiz a reserva pelo hostel, não sei se todas as agências agem dessa forma.

Além disso tudo, teve a decepção do passeio em si. Ok, teve toda aquela euforia de estar no cenário de Tieta e tal, mas foi fogo de palha. O passeio é ruim demais. Depois de quase duas horas de estrada, chegamos na beira do Rio Piaui para a travessia até Mangue num barco ruim, com uma música nas alturas, uma zona. O vilarejo não tem grandes atrativos, apenas umas lojinhas e um igreja bem pequena que em nada lembra Santana do Agreste. Dali embarcamos no bugue até a praia. O trajeto (curto) é o mais interessante do passeio todo. Quem nunca veio ao Nordeste realmente se deslumbra com os coqueiros e dunas, ainda mais quem vai com as imagens de Tieta na cabeça. Mas o entusiasmo termina ali. Depois disso, seguimos para um desses restaurantes de beira de praia, com uma infinidade de ambulantes e um serviço bem a desejar. Enfim, ninguém gostou.

Uma outra constatação, dessa vez com relação ao hostel. Durante algum tempo nas minhas viagens, só me hospedei em hostel. Eles tinham em comum hóspedes wue viajavam sozinhos, geralmente jovens e muitos estrangeiros. Na época, ainda chamávamos de albergue e isso afugentava os brasileiros, pois tinham "nojinho". Acontece que com o tempo, graças a algumas novelas e a proliferação de programas de viagens, os agora hostels caíram no conhecimento geral. Antes, também, os hostels só eram encontrados para reserva em sites específicos, era uma coisa mais "guetificada", eu diria. Atualmente você encontra os mesmos em sites como Booking e  Decolar. Aí já viu. Famílias com criança, idosos, toda sorte de hóspedes. Alguns poucos ainda mantém uma identidade própria, voltado mais para o mochileiro mesmo, mas geralmente "marcas" estrangeiras, como o Che Lagarto. Talvez por conta da crise, os hostels brasileiros precisaram ganhar ares de pousada e os turistas brasileiros precisaram encontrar alternativas de hospedagens fora dos hoteis.

Este onde estou, AJU Hostel apresentou falhas. Ao chegar, não pude escolher a cama, embora várias estivessem livres. Além disso, eles acrescentaram uma cama no quarto, diminuindo ainda mais o espaço do ambiente e alguém ficaria sem armário; a justificativa foi um erro nas reservas, o que causou um "overbooking", mas que um hóspede iria embora no dia seguinte e a cama seria retirada. O hóspede foi embora, mas não só a cama ficou como outro hóspede chegou. Ou seja, truque. A internet vira e mexe cai, assim como algum fusível, pois as luzes de cabeceira e tomadas individuais não funcionam - nunca tem isso em hostel, mas quando tem não dá pra usar. O café, ok, justo, dentro dos padrões. O que gostei foi o espaço da sala comum, bem grande, o banheiro também espaçoso (embora chuveiro com pressão muito fraca) e o fato de o ar ficar ligado o tempo todo, sem restrição de horário. Talvez a experiência fosse melhor num quarto privativo. 

Essa viagem está sendo importante pra eu me reconhecer depois da mudança de cidade. É a primeira vez que viajo sozinho e fico em hostel depois que passei a morar sozinho. Claro que o fator idade conta, sim, mas uma vez que você se habitua a encontrar um ambiente só seu no fim do dia, a deixar suas coisas cada uma no seu devido lugar - isso para um sistemático é a gloria - não ter essa privacidade, ter que ir pra banheiro levando uma tralha, ter que achar um canto pra por sua toalha, a experiência torna-se menos interessante. Acho que realmente são fases. Antes eu nem me importava, eu queria mesmo era economizar no que pudesse e aproveitar o resto. Hoje fiquei mais exigente, como dizem. Outra coisa que pareço ter perdido é o entusiasmo, a disposição para socializar com as pessoas. Ontem mesmo no passeio não fiz muita questão de formar turma e tal - devo ter passado por arrogante, inclusive. Mas sabe quando você tá sem élan? Eu estava assim. 

Posso dizer que é uma viagem que vem servindo pra muita coisa. Uma sessão intensiva de auto-análise. Uma revisão de conceitos e prioridades, materiais e pessoais.

Atrevo-me a dizer que todo mundo deveria fazer isso vez ou outra. Ficar sozinho consigo mesmo faz bem. Fortalece quem realmente somos. Quem fica o tempo todo acompanhado pode acabar vivendo demais em função do outro a ponto de não saber mais do que gosta, do que traz felicidade, pois tudo é para o outro, nada para si mesmo.

Enfim. É isso. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Relatos do Sertão - II

Eu fui para Piranhas seguindo a dica de amigos que já conheciam a região e me recomendaram dormir lá, em vez de fazer o passeio para o Xingó no esquema bate e volta de Aracaju. Posso dizer que foi uma decisão mais do que acertada. Claro que ficou mais caro, pois tive que pagar pousada, mas valeu por conhecer a cidade.

Piranhas, segundo a guia do passeio, é a única cidade do sertão tombada pela Unesco. E uma vez lá, o motivo fica claro. O centro histórico - também chamado de "Piranhas velha" - é muito bonito. Construções preservadas, recém-pintadas, cada uma numa cor (remete à Olinda), várias placas explicando o que funcionava ali no passado, enfim, um lugar que parece um cenário de filme (tanto que filmes e novelas já foram gravados ali). Como se não bastasse isso, você tem livre acesso ao Rio São Francisco. É uma sensação muito boa poder nadar nesse rio tão famoso e tão importante para o país - ele banha mais de 500 municípios ao longo do seu curso - com uma temperatura agradabilíssima e águas claras, a ponto de ser possível ver o fundo em profundidades menores. Por isso vale a pena ir até Piranhas. Embora Canindé tenha pousadas e agências de passeios, a cidade, pelo pouco que vi, não oferece nenhum atrativo. E pra quem já aguentou quatro horas dentro de um ônibus, o que são vinte minutos de carro?

Claro que por ser uma cidade bem pequena, as opções de lazer são escassas, especialmente durante a noite, mas ainda assim vale ser visitada. Fiquei duas noites, mas creio que poderia ter ficado mais uma, faltaram algumas ruas a serem percorridas e alguns banhos de rio a serem tomados. Existe um outro passeio, a Rota do Cangaço, que leva até a Grota do Angico, local onde Lampião e seu bando foram mortos. Eu li a respeito desse passeio num blog e não me interessei, pois seria uma caminhada debaixo do sol forte da caatinga para chegar num ponto com uma placa enorme dizendo o que ali aconteceu. Claro que também rola um percurso de barco rio abaixo e um almoço num restaurante todo temático, mas ainda que me interessasse, fazer o passeio implicaria em eu ter que chegar às pressas na pousada para arrumar as coisas e ir rápido para Canindé. Eu detesto isso, fazer tudo correndo. É cansativo e geralmente eu deixo metade das minhas coisas pra trás. Logo, não fiz.

Com relação ao porquê ter preferido dormir em Piranhas, vou deixar os "detalhes técnicos" para o meu outro blog. Porém, até para me ajudar a lembrar de tudo depois, algumas infos posto aqui. Para ir de Aracaju até Piranhas, é preciso comprar uma passagem até Canindé de São Francisco (linha que segue até Paulo Afonso, na Bahia) e de lá pegar uma condução até Piranhas. Peguei táxi mesmo por estar com mala - pois é, mochila não tá mais rolando. Para voltar, foi a mesma coisa. Por ter voltado na sexta-feira, quase fiquei para trás, pois não havia comprado antes e, ao chegar em Canindé, tive que esperar o ônibus chegar de Paulo Afonso para ver se ainda havia vaga. Restavam três lugares, para o meu alívio.

Apesar de um atraso na estrada - obras - cheguei em Aracaju num horário bom. Tive que pegar táxi de novo, pois não ia rolar circular com a bagagem. Peguei um motorista que mais parecia o Seu Lunga. Quando dei por mim, vi que o taxímetro acusava bandeira 2 - ao meio-dia de sexta-feira - e ao perguntar o motivo, olha só, "é por causa do aumento do combustível. Ou seja. FORA DILMA! FORA PT! Nem quero ver qual bandeira é cobrada no período que seria de direito a 2... Depois geral vai de Uber, essa máfia fica magoadinha.

Uma vez no hostel tive que aguentar a piadinha SUPER ORIGINAL do recepcionista, perguntando se sou parente do Zezé, é o Camargo mesmo. Pois é. O hostel em si não é ruim - já fiquei em muito piores - tem ar condicionado, wifi legal, banheiro dentro do quarto. Entretanto, não pude escolher a cama, fui designado para uma cama extra, sendo que o quarto nem lotado estava - até porque se tivesse nem armário eu teria para colocar minhas coisas. Conclusão: por mais que eu esteja repetindo esse lance de "volta às origens", certas coisas nunca mais serão como antes. E ficar em hostel é uma delas. Não consigo mais, ainda mais agora que moro sozinho. Acostumei tanto com meu espaço que ter que dividi-lo, ainda mais com estranhos, tornou-se algo desconfortável. Sim, já gostei muito dessa experiência e já fiz amigos assim, mas já passou a fase. Eu sei. Estou envelhecendo. Acho que só em Pipa eu consigo ficar em hostel...

No mais, foi aquele passeio pela praia e orla que eu postei no Facebook. Amanhã é dia de passeio. Será que vou conseguir pegar a jabiraca de Jairo e ir até Santana do Agreste? 

Enfim. É isso.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Relatos do Sertão -

*Queria ter postado no mesmo dia, mas não deu.

Como eu disse no Facebook, desde o início essa foi uma viagem pensada como uma volta às minhas origens. Mas o que isso quer dizer, afinal? Em suma, priorizar o conhecer, a novidade, a descoberta, deixando conforto e comodidade em segundo plano. Pois bem.

Ontem, chegando em Aracaju, fui logo para a rodoviária comprar a passagem para meu destino seguinte. Fui de táxi, pois recém-chegado iria demorar muito a descobrir o caminho. Pra voltar, eu quis pegar o circular - não só pela experiência, mas pela economia. Vale dizer que, enquanto em Ribeirão o passe custa absurdos R$ 3,40, em Aracaju vale R$ 2,70...

Comprada a passagem, fui me informar sobre como retornar para Atalaia, onde estava hospedado. Um cidadão muito prestativo me indicou o terminal urbano e disse que eu deveria pegar a linha "080 - Atalaia/Bugio". Fui até onde ele disse e fiquei aguardando. Como o tal terminal não é um primor de organização e na 'plataforma' onde eu estava não havia menção do "080", achei que tinha que ficar de olho até que ele aparecesse. Dito e feito. Ele surgiu na plataforma de trás. Não hesitei, fui até lá e embarquei. 

Toda pessoa que realmente gosta de se misturar aos locais, deveria fazer uma viagem de circular, nem que seja pra sair e voltar no mesmo ponto. Garanto que é uma ótima maneira de ver lugares fora dos roteiros da CVC (não que isso signifique lugares bonitos, mas seguramente locais não maquiados), assim como ouvir os sotaques e perceber alguns modos e maneiras dos habitantes. E ontem foi assim. Fui parar num bairro que jamais teria motivo para visitar, o tal "Bugio". Fica na zona norte da capital sergipana, lado oposto de onde estava hospedado. Não é uma vizinhança carente, marginalizada. Claro que não possui uma estrutura das áreas centrais/comerciais, mas tem uma atmosfera de cidade do interior, com aquelas casas típicas da região, com portas e janelas se abrindo diretamente na calçada, redes ou roupas estendidas na varanda.

Depois de muito rodar, chegamos numa pracinha. O cobrador olhou pra mim - àquela altura o único passageiro - e disse que era o ponto final. Aí eu disse que precisava ir pra orla e que tinham me indicado aquela linha. Ele respondeu que realmente é a "080" que vai pra Atalaia, mas a outra linha, "Bugio/Atalaia" e eu havia embarcado na "Atalaia/Bugio". Salvo engano, nunca havia visto uma linha com o mesmo número "partida" em duas. Enfim, aí ele, com toda a gentileza característica do nordestino, me explicou qual ônibus correto pegar e onde esperá-lo. Foi tão prestativo que só faltou mesmo me levar pela mão. :-)

Lá vou eu de novo. Como peguei no primeiro ponto, assentos para escolher. Ao longo do percurso, aquilo foi enchendo... Descobri que, em Aracaju, "Anchietão" não é uma parada que fique perto de um estádio, hospital ou colégio, mas um mercadinho bem de bairro mesmo. Você escuta "Anchietão" e imagina algo enorme,  baita ponto de referência. Ledo engano. Também notei que os "aracajuenses" - será que é assim? - odeiam fone de ouvido. Aí você acha que eles ouvem forró, tecnobrega? Nada. RAP. Pois é...

Ainda sobre os terminais urbanos. Você paga a passagem na roleta, ao entrar no terminal - vale destacar que, embora eles tenham o cartão magnético, ainda aceitam dinheiro com o cobrador - e fica naquele amontoado de gente esperando busão. Quando ele chega, é um Deus nos acuda. Sabe metrô, onde todo mundo quer subir e descer ao mesmo tempo, mas ninguém consegue fazer nem uma coisa, nem outra? Pois então. Quase fiz o rockstar e me joguei na multidão pra descer do ônibus.

Terminado meu périplo "aracajuano" - depois eu pesquiso o patronímico correto - resolvi dar uma conferida, finalmente, na orla. Vi pouca coisa, pois o cansaço bateu forte e a fome também. Talvez pela época do ano, achei muito fraco o movimento, mas vou deixar para comentar depois, quando retornar do sertão e aí sim me dedicar à capital sergipana. À primeira vista, me pareceu um bairro novo, recém explorado, com o potencial ainda a der descoberto. Digo isso pois vi, numa distância não muito grande entre eles, dois hotéis  abandonados, na verdade duas construções que seriam hotéis mas nunca foram concluídas.

Como disse, ainda falta explorar mais. Terei tempo pra isso. Hoje, porém, já peguei estrada de novo, rumo ao interiorzão. Vou atrás de um pouco de história nordestina e também de um Nordeste "não praiano". Não que tenha me desinteressado por praias - jamais! - mas tava mais do que na hora de eu me adentrar um pouco mais nesse pedaço de Brasil que gosto tanto e sempre me acolhe tão bem. Não sei como ainda exista quem fale mal de nordestino. Deve ser recalque, sei lá. Eu pelo menos não tenho do que me queixar. Pelo contrário. Apenas elogiar e agradecer. Muito. Já estive aqui por vezes que perdi a conta, sempre retornando feliz pra casa. E que assim continue.

Enfim. É isso. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

50 Tons de Chatice

*Digitei no Word e depois colei aqui. A formatação dos parágrafos ficou horrível e estou sem paciência para arrumar. Obrigado. De nada.

Primeiramente é bom lembrar que eu não sou crítico de cinema (pelo menos não ganho a vida assim) e tudo aqui expressa única e exclusivamente o que eu achei do filme; como ainda vivemos numa democracia, ninguém precisa pedir minha opinião para eu expô-la. Dito isso, vamos ao que interessa.
          Não vou me ater ao enredo do filme, pois como todo mundo sabe, ele é a adaptação de um livro e esse eu já comentei sobre, faz tempo, quando li o mesmo. Vou falar o que achei do filme em si, produção, direção e coisas assim. Não sou cineasta – infelizmente – mas já vi um bocado de filmes, logo tenho referências para fazer tais comentários.
           O filme é uma bosta. Um péssimo trabalho. Sofrível mesmo.
        A estória é de um cara “cinza”, fechado, praticamente antissocial, em contraponto com a literalmente donzela, romântica, toda camponesinha. Sendo assim, creio eu, a direção deveria, ao menos na primeira parte do filme, estabelecer essa diferença na iluminação, cenários e tal; dar a ele uma luz mais sombria, pesada, mais cinza (né?), enquanto que pra ela um pouco mais de cor, uma iluminação mais clara, mais suave. Mas não. O cara fica parecendo um ricaço mimado, que faz o que faz só porque quer, porque tem dinheiro. Nem de longe passa algo de atormentado (se bem que o ator também não colabora em nada).
           Mesmo quem nunca leu o livro, mas deu uma lida nos tantos comentários, textos, posts sobre o filme, sabe que se trata de um enredo envolto numa aura forte de sensualidade, sexualidade, luxúria, lascívia, tesão. Pois bem. Faltou muito disso. Eu pelo menos já vi muito mais sensualidade em outros trabalhos. Um exemplo? Paola Oliveira na tão falada – e ótima – “Felizes Para Sempre?”. E em termos de sexualidade, no sentido mais cru da palavra, basta conferir Ninfomaníaca (queria só ver a reação dessas senhoUras assistindo a polêmica obra de Lars Von Trier... risos). 50 Tons passa longe. Por que digo isso? Explico.
           Antes de rolar o primeiro beijo entre Anastásia e Christian, ele é enfático ao dizer que não é de romance – “eu não faço amor, eu fodo” – que só vai beijá-la quando ela ler e assinar o contrato e tal. Porém, instantes depois eles se vêem dentro de um elevador, ele não resiste, diz “danem-se as formalidades” e avança pra cima dela. Veja bem, dentro de uma coerência, se ele se sente tão atraído pela Anastásia, a ponto de trair a própria convicção, passar por cima da própria palavra, o beijo tem que ser avassalador! Eu não vi nada disso. Um beijo desse porte, com todo esse significado (tesão, em tese, incontrolável), SEM LÍNGUA? Desculpe-me, mas não convence. Eu sei que o ator fez algumas restrições quanto a sua exposição (proibiu exibição do seu nu frontal) mas, a partir do momento em que aceitou um papel desse, querer fazer beijo técnico é no mínimo descabido. Essa diretora não podia deixar isso passar. E nem adianta dizer que ela fez isso na tentativa de passar o filme para uma classificação mais branda, para atingir um público maior, pois se fosse essa a ideia, ela sequer tinha gravado – o que dirá exibido – os pelos pubianos do cara. Só essa cena já jogaria a classificação para acima de dezoito anos. Ela foi incompetente, sim. Pelo menos uma coisa boa teve nesse lance do beijo: eu saí do cinema com a certeza de que eu beijo muito melhor do que Christian Grey.
         Isso sem mencionar a falta de pegada do casal. Ok, ela era virgem, toda inocente, natural não ter as malícias da pegada, mas ele... Pelo histórico do cara, ele tinha que ser O pegador, mas mais parecia um moleque cuja única experiência sexual havia sido com as prostitutas que o papai pagou. Tanto é que a forma dele cortejar, seduzir a moça não foi física, instigando o desejo, o tesão dela, para depois conseguir convencê-la a entrar no seu universo ‘sadomasô’, mas sim comprando-a com livros raros, computador, carro, voo de planador (ok, nesse caso é mais culpa do livro mesmo, não do filme). E antes que uma fã mais afoita venha “mimimizar”, dizendo que ele não sabia amar e por isso achava que presentes eram suficientes (e foram, pelo visto), eu estou falando aqui de tesão, atração, sexo, coisas que não necessariamente tem que vir acompanhadas de amor. Quase nunca vem, na verdade. Mas mais uma vez, erro grosseiro da direção. Ela, a diretora, resolveu que sensual seria mostrar ambos sem roupa. E só.
          Com relação ao sadismo do Senhor Cinza, deveriam preparado melhor o ator, explicado a ele como fazer cara de prazer. Sim, pois pelo que me lembro do livro, ser sádico era o único momento em que ele sentia algum tipo de prazer, mas não é o que mostra no filme. Primeiro, o que são aqueles tapas na bunda da Anastásia? Mas nem pra matar pernilongo eu dou um tapa tão frouxo como aquele. Segundo, a expressão no rosto dele quando ele dá umas chibatadas na moça está bem longe de ser uma cara de prazer. Se bem que, nesse caso, nem dá pra esperar muito do novo Cigano Igor...
        Dia desses eu li que umas três mulheres foram flagradas se masturbando durante o filme (não ao mesmo tempo, nem na mesma sala, que fique claro) e fui com essa informação para a sessão. Uma vez lá dentro, vendo as cenas ~sensuais, pensei: “nossa, foi pra isso que a fulana achou que valeria a pena o risco de ser presa? Bom, ou era freira, virgem, ou não tem internet em casa, pra ter isso como referência de excitação”. Vale lembrar que esse filme usou desse artifício pra se vender, o sexo, não uma estória de amor, logo tinha meio que a obrigação de ser mais lascivo, sim.
       Pra finalizar, vou mencionar dois pontos positivos do filme (sim, eles existem) com relação ao livro. Primeiro: o roteirista teve a clareza de ignorar por completo aquela babaquice monstruosa de “deusa interior”. Pra mim, sem dúvida, eram as passagens mais sofríveis do livro. Pra quem não entendeu, no livro, quando a autora transcrevia os pensamentos de Anastasia, ela fazia algo como “minha deusa interior correu se esconder atrás do sofá” (Ana com vergonha) ou “minha deusa interior dançou salsa ao ritmo de maracas” (Ana feliz). Assim, pateticamente patético! Segundo: apenas uma única vez em todo o filme a palavra “ruborizada” foi mencionada. No livro, tudo era motivo para Anastasia sentir-se “ruborizada”. Alguém aqui usa essa palavra? Pois então.
      Ah sim! Estava esquecendo. Uma cena que tem uma certa importância no livro, logo no começo, é o tombo que Anastasia leva ao entrar na sala do Christian, pois é a primeira vez que ele a vê. Nunca vi uma cena de queda tão canastrona como a que vi no filme. Sério, muito fake, muito forçada. Nem parece uma queda – pois a diretora sequer se preocupou eu mostrar onde ou em que a fulana tropeçou – mas mais um tombo voluntário, tipo a Rachel em Friends, quando o Chandler some e ela não consegue contar pra Monica (colocarei o vídeo abaixo para entenderem a referência, a partir de 0:38).




            Enfim, é isso. Não serve como entretenimento. Fui assistir ao famigerado. Juro que até tinha uma esperança de ser algo ‘assistível’, mas não rolou. Tanto é que eu só notei furdunço antes da estreia, todo mundo compartilhando o trailer e tal, mas depois... Bola de feno passando. Grilos cantando. Ou seja, acho que não fui só eu quem achou o filme um lixo...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

365 dias sem fumar. Pois é.

            Antes de qualquer coisa, quero dizer que esse texto não é um pedido de confetes, aplausos. A minha intenção é apenas compartilhar a experiência, pois tenho muitos amigos que fumam e vários deles já manifestaram a vontade de parar. Se eu consegui, eles também podem fazê-lo.

            Para quem está chegando agora, eu fumei por dezessete anos. Embora eu não me considerasse um fumante compulsivo – uma maço durava em média três dias, sendo que já ouvi pessoas que fumam dois, até três inteiros num dia só – eu sabia que era um viciado, sim.
           
            A primeira vez que tive vontade de parar eu tinha, acho, uns vinte e três anos. Na época, consegui ficar quatro meses sem cigarro. Porém, justamente por ter ficado esse tempo sem fumar, eu me achava capaz de voltar e parar quando bem entendesse, por isso acabei voltando, crente de que pararia quando me desse na telha. Até parece...

            Depois disso, fiquei um tempão achando lindo fumar, sem pensar em parar por um longo período. Até que algumas coisas começaram a me incomodar.
           
            Primeiro, meu comportamento. Por conta da lei anti-fumo, que pegou legal em São Paulo – posteriormente no resto do país – as coisas começaram a ficar mais complicadas. Para todo lugar que eu fosse, em primeiro lugar eu precisava me certificar se haveria um espaço disponível pra eu fumar, sem embaraços. Se era um lugar que eu já conhecia, antes mesmo de sair de casa eu já fazia uma ‘logística’ de onde pegar mesa, para ficar mais fácil a saidinha do tabaco. Em viagens, eu sempre incluía no meu planejamento de deslocamento a paradinha do cigarro; eu checava se daria tempo de chegar na rodoviária e fumar um antes de ir pro aeroporto e, depois, se eu teria tempo de fumar alguns antes de embarcar – já cheguei a embarcar de estômago vazio, pois ou eu comia ou eu fumava. Acabei fumando. Depois de muito tempo nessa fissura, isso começou a me incomodar. Sentir-me dominado pelo cigarro fez eu rever alguns conceitos.

            Segundo, minha crescente hipocondria. Não sei exatamente quando ou por que isso começou, mas aos poucos eu fui ficando cismado com qualquer sintoma besta que surgisse no meu organismo – creio que já era a consciência pesando. E tudo, claro, era culpa do cigarro. Eu já tive crise de stress, achei que era infarto. Um pequeno inchaço na língua já se tornou câncer de boca. Falta de ar por conta da vida sedentária que levava? Câncer de pulmão. Até colonoscopia eu cheguei a fazer – claro que deu limpa. Ou seja, eu estava me irritando com tanta paranóia. Eu decidi que precisava mudar.

            Porém, ao contrário do que possa parecer, não é fácil. Ah, mas não é mesmo. Se você tem alguém próximo que diz tentar parar mas não consegue, no lugar de criticar a pessoa e chamá-la de fraca, talvez devesse dar uma apoio moral. Pois, olha, é foda.

            Por várias vezes eu jurei pra mim mesmo que aquele maço seria o último, que assim que acabasse eu não compraria mais. Eu costumava comprar aqueles pacotes com dez maços e, assim que notava que ainda faltavam dois fechados, já ia comprar mais um novinho. Quando eu decidi não comprar mais o pacote, me vi caçando bares abertos para poder comprar mais um maço – aí, claro, comprava logo dois. E viajando? Nossa, que fixação... Assim que eu notava que ainda restavam uns cinco, já começava a ficar impaciente para comprar logo mais um maço. Vai que acaba no meio da noite e tá tudo fechado? Era uma “sofrência” só. Eu podia não ter o que comer na mochila, mas o cigarro tinha que estar lá. Por conta disso eu ensaiei inúmeras vezes parar, muitas mesmo.

            A segunda vez que eu consegui ficar um tempo sem cigarro foi justamente na época do tal exame que mencionei ali em cima. Caramba, eu iria fazer um exame totalmente e literalmente invasivo, constrangedor – e caro! – por conta de uns medos que eu pus na cabeça, medos estes por conta do cigarro, mas iria continuar fumando? Nem pensar! Parei. Por dois meses.

            Exatamente no 60º dia sem cigarro minhas férias começaram. Como eu iria ficar sem fumar no aeroporto? (Eu chegava bem cedo de propósito só pra ficar fumando naquela muretinha de Guarulhos...). Antes mesmo de sair de casa, comprei os maços e lá ia eu começar tudo de novo... Fumei as férias inteiras - foi justamente naquele ano que emendei férias com recesso - fiquei quase dois meses fora de casa, entre idas e vindas. Sempre fumando. Mas...
           
            Ainda durante a viagem, eu não me sentia totalmente satisfeito com o fato de ter voltado a fumar. Não era apenas a sensação de ter fracassado – de novo – mas outras sensações. Quem fuma não sente o cheiro do cigarro na roupa, no carro, no hálito. Acreditem, é assim. Porém, talvez por conta dessa pausa de dois meses, eu comecei a ficar meio incomodado – mas isso não me fez parar de imediato.

            Quando minhas férias acabaram, eu continuava com essa sensação de derrota por ter sucumbido ao vício de novo, bem como me lembrava todos os dias das minhas paranóias por conta do cigarro. Foi aí que, mais uma vez, eu resolvi que aquele maço seria o último.

            E no dia 08/01/2014 eu fumei aquele que veio a ser o meu último cigarro.

            Por que esperei um ano para falar sobre isso? Por dois motivos. O primeiro é o meu quase TOC. Um ano é um ano, ciclo perfeito, redondo, completo. Tem graça alguma coisa “quebrada”, tipo, “hoje faz 273 dias que eu...”. Não tem. O segundo motivo é que eu não tinha segurança se iria conseguir completar um ano. E eu acho patético a pessoa que, por exemplo, fica um fim de semana sem beber e sai postando “Foco! Eu sou mais eu! Deus é mais!”, para daí, na semana seguinte, estar dormindo debaixo do orelhão. Eu precisava ter certeza. Nesse tempo eu passei incólume pelo carnaval de rua do Rio (só aí já dava pra ter certeza que eu estava limpo de vez), viagens para a praia, aeroportos, incontáveis cervejinhas com os amigos – e quem fuma sabe que a cerveja chaaaaaaaaaamaaaaaaaa o cigarro – até mesmo sair na companhia de outros fumantes. Talvez eu nem precisasse esperar um ano para comemorar. Mas eu sou sistemático, logo, as coisas tem que ser ‘redondinhas’ para mim.

            Mas, afinal, o quão difícil foi parar? Será que é tão forte assim a abstinência? Vou contar como foi para mim.

            Como disse anteriormente, eu não fui o que se pode considerar uma chaminé ambulante. Cheguei a ouvir pessoas dizerem que, antes mesmo do meio-dia, já haviam consumido um maço. Nem nos meus ataques de ansiedade mais profundos, nem nos meus porres mais homéricos eu consegui fumar tanto. Mas ainda assim, eu sofri. Ah, sofri. Jamais vou me esquecer do nono dia sem cigarro. Sim, porque funciona igual com os viciados noutras substâncias: “hoje, não”. Um dia de cada vez. Uma das características do vício em cigarro é a rotina que se cria em torno dele. Explico.

            Existiam alguns momentos do dia em que fumar era mandatório, sagrado. Antes de ir trabalhar. Depois de almoçar. Assim que chegava em casa do trabalho, antes mesmo de tomar banho ou qualquer outra coisa. Bebendo cerveja. O efeito dominó numa rodinha de fumantes – um acende e todos os outros acendem na sequência. Pra tentar aproximar a sensação daqueles que nunca fumaram, pensem vocês em chupar uma manga e não passar fio dental; sentir o pernilongo te picar e não poder coçar; ouvir uma torneira pingando e não poder fechá-la; sentir a etiqueta cutucando e não poder cortá-la; comer apenas um Bis. Dá pra se concentrar em outra coisa? Dá pra deixar quieta essa sensação de “eu preciso fazer”? Não, não dá. E com o cigarro é por esse caminho. Só que com maior intensidade. Bem maior.

            Por conta disso, os primeiros dias foram terríveis, pois era como se eu estivesse me autossabotando, me impedindo de fazer algo que eu gosto – como assim, eu sou livre e independente! Faço o que quero da minha vida!

            Pois então. Eu quase surtei. Juro que eu quase chorei. Mal conseguia trabalhar. Só pensava na hora em que iria embora e não teria um cigarro pra fumar. Foi terrível!

            Entretanto, passei por esse tormento firme no meu propósito.

            O que me ajudou? Bom, primeiro foi a força de vontade. Clichê dos clichês, mas verdadeiríssimo. Lamento informar, mas chiclete, adesivo, cigarro elétrico, nenhuma dessas porcarias funcionam. E sabem por quê? Porque isso é transferir para essas traquitanas a responsabilidade que é só do fumante. Se a pessoa começa a usar os adesivos de nicotina, por exemplo, e fica uns dias sem fumar mas logo volta, ela não vai se sentir fracassada – como eu me senti – pois ela “não tem culpa se o adesivo não presta”. Posso dizer que o que teve algum impacto (pequeno) em mim foram duas coisas: a lei anti-fumo de SP que limitou e muito os espaços para os fumantes e, sim, as matérias do Dr. Dráuzio Varella no Fantástico. Mas mais do que isso tudo, o que deu uma força mesmo foi começar a frequentar a academia, coisa que fiz dias depois de ter fumado meu último cigarro. Como eu nunca tinha feito antes, essa mudança brusca de rotina facilitou muito desvencilhar velhos hábitos do cigarro e, além disso, não tinha sentido algum eu buscar uma rotina mais saudável mas continuar fumando. Então, no meu caso, é verdade: atividade física ajuda a ficar sem fumar, sim. *Aquelas fotos nos maços de cigarro nunca funcionaram. E a patrulha, o povo CHATO PRA CARALHOOOOOOOOOOOO que ficava de mi mi mi quando acendia um cigarro, tinha o efeito contrário. Se você faz parte dessa turma, escute a voz de quem já esteve do lado de lá: quanto mais você ficar resmungando do cheiro do cigarro perto de você (numa balada ao ar livre, por exemplo) mais questão de soprar a fumaça na sua cara o fumante vai fazer. Fica a dica.

            O que mudou nesse um ano sem cigarro? Confesso que não é o paraíso sensorial que eu achei que seria, mas rolaram algumas poucas melhoras (pois é, lamento decepcioná-los). O paladar não teve uma melhora muito significativa; ou sempre foi ruim, ou um ano ainda não é prazo para que ele melhore. Já o olfato, esse mudou bastante. Hoje eu sinto longe (#nazarétedesco) o cheiro de cigarro. Antes eu custava a perceber que minhas roupas estavam cheirando a fumaça. Também achava um absurdo as pessoas “adivinharem” que eu havia acabado de fumar, afinal eu estava com um Hall’s na boca... Nada. Hoje eu também sou capaz de sentir esse cheiro de pós-fumo. É forte mesmo. E o beijo na boca? Sempre achei um exagero dizerem que beijar alguém que fuma é como beijar um cinzeiro. Quando ouvia isso ficava até ultrajado. Pois bem, paguei – lindamente – a minha língua. De lá pra cá passei por algumas situações como essa e, realmente, o gosto vem com força. Aos amigos fumantes que pensam como eu pensava, eu vos digo: não adianta bala, chiclete, Listerine, o cheiro vem de dentro, do âmago. Quanto maior a “ofegância” do beijo, maior a intensidade do gosto que sobe. Na dúvida, beije alguém que também fume.

            Ah sim, que fique claro que eu não me tornei da patrulha CHATAAAAAAAAA anti-fumo. Saio com meus amigos que fumam e, até pouco tempo atrás, quando ainda existia, preferia a área de fumantes – são muito mais divertidos, sim! Apenas estou expondo minha opinião sobre o “lado de cá”. Entretanto isso não significa que eu sinta falta e muito menos que esteja pensando em voltar. Definitivamente, desse vício eu me libertei.

            Bom, vamos às considerações finais. Se você quer parar de fumar, pare. Resista, mude sua rotina, beba muita água (outro clichê que não é clichê, after all), separe o dinheiro do cigarro num cofrinho – a economia é boa – se não quer fazer academia, procure algo de novo pra fazer, de preferência algo que te tire de casa e ocupe seu corpo e mente. Faça o que puder, mas não caia na armadilha de transferir essa responsabilidade para outras coisas/pessoas. Eu só consegui parar quando reconheci que o cigarro me controlava (ok, você que é fumante convicto, se chegou até aqui, vai revirar os olhos com essas minhas palavras; sei disso pois já fui desse jeito, super entendo...). Se você não fuma e quer que alguém próximo pare, você pode fazer o seguinte: rezar/torcer/esperar. Não seja patrulha. NÃO ADIANTA. Você corre o risco de entrar em sérias discussões e mal-estares. Vai por mim. Ninguém é capaz de convencer o fumante a parar, a não ser ele mesmo. Ok, um profissional da saúde pode conseguir também, mas nunca um ‘leigo’. Já conheci vários ex-fumantes e nenhum deles me disse que parou por causa do pedido de outra pessoa. Todos, sem exceção, pararam porque acharam que tinham que parar, porque queriam parar – eu incluído.
           
          Antes de terminar, aproveito para me desculpar e ao mesmo tempo agradecer todos aqueles que suportaram meu vício por tanto tempo. Hoje eu percebo o quanto eu incomodei vocês todos com minhas baforadas, mas nunca me reprimiram, me isolaram, me deram bronca por causa disso. Mesmo muitas vezes eu não respeitando o espaço de vocês - porque tantas outras vezes eu me afastava um pouco pra fumar, vai - vocês sempre respeitaram o meu. Que bom que foram pacientes. Finalmente estamos todos livres. ;)


            Enfim, acho que é isso. Melhor do que completar 365 dias sem fumar é perceber que eu não sinto mais falta nenhuma do dito cujo, sem precisar me privar da companhia de amigos, de sair, de beber, de nada. Pois o verdadeiro desafio é esse, manter a sua convicção, no meio da tentação – a qual hoje nem me tenta mais. Nem um pouco. Graças!