quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Relatos do Sertão -

*Queria ter postado no mesmo dia, mas não deu.

Como eu disse no Facebook, desde o início essa foi uma viagem pensada como uma volta às minhas origens. Mas o que isso quer dizer, afinal? Em suma, priorizar o conhecer, a novidade, a descoberta, deixando conforto e comodidade em segundo plano. Pois bem.

Ontem, chegando em Aracaju, fui logo para a rodoviária comprar a passagem para meu destino seguinte. Fui de táxi, pois recém-chegado iria demorar muito a descobrir o caminho. Pra voltar, eu quis pegar o circular - não só pela experiência, mas pela economia. Vale dizer que, enquanto em Ribeirão o passe custa absurdos R$ 3,40, em Aracaju vale R$ 2,70...

Comprada a passagem, fui me informar sobre como retornar para Atalaia, onde estava hospedado. Um cidadão muito prestativo me indicou o terminal urbano e disse que eu deveria pegar a linha "080 - Atalaia/Bugio". Fui até onde ele disse e fiquei aguardando. Como o tal terminal não é um primor de organização e na 'plataforma' onde eu estava não havia menção do "080", achei que tinha que ficar de olho até que ele aparecesse. Dito e feito. Ele surgiu na plataforma de trás. Não hesitei, fui até lá e embarquei. 

Toda pessoa que realmente gosta de se misturar aos locais, deveria fazer uma viagem de circular, nem que seja pra sair e voltar no mesmo ponto. Garanto que é uma ótima maneira de ver lugares fora dos roteiros da CVC (não que isso signifique lugares bonitos, mas seguramente locais não maquiados), assim como ouvir os sotaques e perceber alguns modos e maneiras dos habitantes. E ontem foi assim. Fui parar num bairro que jamais teria motivo para visitar, o tal "Bugio". Fica na zona norte da capital sergipana, lado oposto de onde estava hospedado. Não é uma vizinhança carente, marginalizada. Claro que não possui uma estrutura das áreas centrais/comerciais, mas tem uma atmosfera de cidade do interior, com aquelas casas típicas da região, com portas e janelas se abrindo diretamente na calçada, redes ou roupas estendidas na varanda.

Depois de muito rodar, chegamos numa pracinha. O cobrador olhou pra mim - àquela altura o único passageiro - e disse que era o ponto final. Aí eu disse que precisava ir pra orla e que tinham me indicado aquela linha. Ele respondeu que realmente é a "080" que vai pra Atalaia, mas a outra linha, "Bugio/Atalaia" e eu havia embarcado na "Atalaia/Bugio". Salvo engano, nunca havia visto uma linha com o mesmo número "partida" em duas. Enfim, aí ele, com toda a gentileza característica do nordestino, me explicou qual ônibus correto pegar e onde esperá-lo. Foi tão prestativo que só faltou mesmo me levar pela mão. :-)

Lá vou eu de novo. Como peguei no primeiro ponto, assentos para escolher. Ao longo do percurso, aquilo foi enchendo... Descobri que, em Aracaju, "Anchietão" não é uma parada que fique perto de um estádio, hospital ou colégio, mas um mercadinho bem de bairro mesmo. Você escuta "Anchietão" e imagina algo enorme,  baita ponto de referência. Ledo engano. Também notei que os "aracajuenses" - será que é assim? - odeiam fone de ouvido. Aí você acha que eles ouvem forró, tecnobrega? Nada. RAP. Pois é...

Ainda sobre os terminais urbanos. Você paga a passagem na roleta, ao entrar no terminal - vale destacar que, embora eles tenham o cartão magnético, ainda aceitam dinheiro com o cobrador - e fica naquele amontoado de gente esperando busão. Quando ele chega, é um Deus nos acuda. Sabe metrô, onde todo mundo quer subir e descer ao mesmo tempo, mas ninguém consegue fazer nem uma coisa, nem outra? Pois então. Quase fiz o rockstar e me joguei na multidão pra descer do ônibus.

Terminado meu périplo "aracajuano" - depois eu pesquiso o patronímico correto - resolvi dar uma conferida, finalmente, na orla. Vi pouca coisa, pois o cansaço bateu forte e a fome também. Talvez pela época do ano, achei muito fraco o movimento, mas vou deixar para comentar depois, quando retornar do sertão e aí sim me dedicar à capital sergipana. À primeira vista, me pareceu um bairro novo, recém explorado, com o potencial ainda a der descoberto. Digo isso pois vi, numa distância não muito grande entre eles, dois hotéis  abandonados, na verdade duas construções que seriam hotéis mas nunca foram concluídas.

Como disse, ainda falta explorar mais. Terei tempo pra isso. Hoje, porém, já peguei estrada de novo, rumo ao interiorzão. Vou atrás de um pouco de história nordestina e também de um Nordeste "não praiano". Não que tenha me desinteressado por praias - jamais! - mas tava mais do que na hora de eu me adentrar um pouco mais nesse pedaço de Brasil que gosto tanto e sempre me acolhe tão bem. Não sei como ainda exista quem fale mal de nordestino. Deve ser recalque, sei lá. Eu pelo menos não tenho do que me queixar. Pelo contrário. Apenas elogiar e agradecer. Muito. Já estive aqui por vezes que perdi a conta, sempre retornando feliz pra casa. E que assim continue.

Enfim. É isso. 

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